vasos-comunicantes-ii
Vasos Comunicantes II

INVENTAR SINAIS | REVER OLHARES
curadoria de Maria de Fátima Lambert


20 SET'25 ▷ 18 FEV'26

Os casos apresentados, históricos e atuais, integram vertentes plásticas sob a invenção de Olhares e Escritas no fio do tempo. Em Vasos Comunicantes, palavras, sinais, caligrafias e alfabetos dialogam com imagens, narrativas e significados.

Artistas confirmam conversas visuais diversas e cúmplices.

Desenhos, pinturas e objetos revelam beleza genuína, refletindo sociedade e natureza, dignificando pessoas. Obras portuguesas e internacionais ampliam identidades e estéticas, enquanto a imagem se transforma em palavra e ação cultural, partilhando mundos além-do-tempo.


Artistas presentes:

ABÍLIO-JOSÉ SANTOS
ALBERTO PIMENTA
ALBUQUERQUE MENDES
ALIGHIERO BOETTI
ALICE GEIRINHAS
ÁLVARO LAPA
ANA HATHERLY
ANA JOTTA
ANA MOTA
ANTONI MUNTADAS
ANTÓNIO OLAIO
ANTÓNIO SENA
AR PENCK
BEATRIZ ALBUQUERQUE
CARLA CHAIM
CARLA FILIPE
CLÁUDIA AMANDI
COSTA PINHEIRO
DA ROCHA
DANIEL BAECHLER
DONALD BAECHLER
E.M. DE MELO E CASTRO
FÁBIO COLAÇO
FÁTIMA MENDONÇA
FERNANDO AGUIAR
FILIPE VOLKER MARQUES
JOAQUIM RODRIGO
JOANA PIMENTEL
JOÃO FONTE SANTA
JOÃO PAULO FELICIANO
JORGE PINHEIRO
JOSEPH BEUYS
JULIÃO SARMENTO
LENORA DE BARROS
LUÍS MELO
MARIA JOSÉ AGUIAR
MÁRIO CESARINY
MIGUEL D’ALTE
NUNO RAMALHO
PAULO CLIMACHAUSKA
RUTE ROSAS
SALETTE TAVARES
SUSANA MENDES SILVA
XAI
YONAMINE


Agradecimentos:

Artistas

Arquivo Fernando Aguiar

Coleção Norlinda e José Lima

Coleção Pedro Oliveira

Coleção Maria de Fátima Lambert

Fundação de Serralves (Coleção Ivo Martins)

Galeria Graça Brandão

Galeria Pedro Oliveira


Texto Curatorial:

Os casos autorais que se apresentam são emblemáticos – históricos, atuais [e do próximo presente]. As obras inserem-se em vertentes plásticas subsumidas à invenção de Olhares e Escritas. Desenlaçam-se, pois, no fio do tempo e no espaço. Sob o título de Vasos Comunicantes, vemos e inventam-se palavras, sinais, caligrafias e alfabetos; leem-se e reveem-se imagens e reconhecem-se [ou não] significados remotos e sentidos visionários. Enfrentam-se narrativas visuais (com e sem palavras registadas pelo ver) e, assim se desvelam episódios inesgotáveis, basta que alguém descubra pequenos mundos. Na segunda exposição deste ciclo adicionaram-se novos artistas, comprovando-se que estas quase tertúlias visuais, independentemente das opções estilísticas e/ou poéticas, se verificam diversas e cúmplices.

A história da arte portuguesa nos séculos XX e XXI também se constrói ao seguir o escopo relacional entre imagens e escritas, salvaguardando-lhes a autonomia ou expandindo suas potencialidades conjugadas. Atenda-se à persistência e relevância de autores e poéticas incontornáveis, articulando-se aos dinamismos das artes visuais, poesia/literatura e artes performativas. Se, em inícios do século XX no panorama português, Amadeo de Souza-Cardoso (entre outros) recorreu a sinais de escrita, estabelecendo-lhes espaço privilegiado nas composições, fê-lo em consentaneidade às linguagens cubista sintética, futurista e dadaísta então emergentes. À semelhança de outros artistas insaciados, a integração de elementos (caligráficos, tipográficos) na pintura em si, supunha a projeção até soluções combinatórias emergentes.

Demonstrava-se a cumplicidade que as palavras protagonizavam, tomadas pela sedução da criatividade e da provocação. O recurso a epígrafes, textos ou palavras sustentava os discursos inflamados nos vários Manifestos que proliferavam. Nessas proclamações, por vezes dogmatizadoras, a praxis e os códigos linguísticos reciclavam conceitos, outorgando-lhes asserções deliberadas e pragmatistas. O círculo fechava-se, entre a aparente libertação da palavra recortada ou casuisticamente usada e o compromisso ideológico e/ou estético perante um público a angariar para magnas causas; ou seja, a palavra e sua caligrafia/tipografia organizavam-se num exercício quase autofágico.

Nos anos 1960, fruto da situação socio-intelectual que os protagonistas culturais assumiam, posicionava-se a contemporaneidade portuguesa urgente. Concretizou-se a movimentação designada por poesia experimental – po-ex. Os autores procediam de uma área e/ou formação quer poético-literária, quer artística-plástica e performática: E.M. de Melo e Castro, Alberto Pimenta, Pedro Xisto, António Aragão, José Alberto Marques e Ana Hatherly, Salette Tavares, entre outros. Por outro lado, a cumplicidade com a música e a performance arte evidenciou-se, nos casos emblemáticos de Jorge Peixinho ou

Clotilde Rosa.

Os conteúdos que os desenhos, pinturas, gravuras, serigrafias e objetos nos revelam, favorecem experiências de um tipo de beleza que é genuína; uma verdade que pensa a sociedade, a natureza e, sobretudo, contribui para a dignificação de cada e de todas as pessoas. As ideias proporcionam-nos cenários de identidades que assinalam a diversidade estética da criação artística em Portugal, viajando até nós, igualmente, trabalhos emblemáticos de autores brasileiros, espanhóis, entre outras nacionalidades.

Identificam-se desenhos grafados e ilustrações substantivas; pinturas narrativas e transponíveis entre pensamento e voz; imagens a que preside a écfrase em verso e reverso; objetos de pesquisa poética e filosófica, no seu conjunto anunciam a reativação que cada pessoa pretendeu.

Propõem-se novas viagens, incursões históricas entre olhares e escritas. Nesse equacionamento, amplia-se o Núcleo no fio do tempo, ao compilar um grupo de autores nacionais e internacionais exemplares, em cujas obras se evidencia a pregnância deste binómio magno. Escolheram-se peças que, na maioria, compartem a singularidade de múltiplos. Assim, pretende-se sinalizar os contornos inovadores que viriam a ser assimilados dos dois últimos séculos, em termos historiográficos, sociológicos e de mercado, mas também promovendo um alargamento e democratização do acesso à Arte.

Ainda e em concatenação intermedial, programou-se um Screening de Vídeo à la Carte, reunindo obras concebidas por artistas portugueses e brasileiros, assim convertendo o Auditório da Fundação numa sala para fruição audiovisual. Os vídeos escolhidos glosam caligrafias de auto-escrita, identidades que se desenrolam no corpo comunicante, que assumem razões performáticas, que aportam mensagens e projetam compromissos partilhados.

É o poder da imagem que se transforma em palavra na invisibilidade do pensamento de cada um/a. As reflexões sobre a urgência da ação cultural traduzem-se na doação singela, nessa generosidade de “dar a ver” (Paul Éluard dixit), que nos permite fruir a intimidade que cada artista connosco partilha. A proximidade às obras de arte autoriza-se no ato singelo de gerar mundos que reinam além-do-tempo. Na sequência de investigações e curadorias anteriores, movemo-nos sob égide da escrita e da visão, pois se pensam as criações artísticas como bens afetuosos; fruem-se paladares e t[r]ocam-se ideias poéticas em modo Vasos Comunicantes.

Maria de Fátima Lambert. Porto, setembro 2025.